É inevitável que num futuro próximo a maior parte do trabalho médico seja substituído por hardwares e softwares inteligentes. A frase, que mais beira uma profecia, pertence ao empresário indiano Vinod Khosla, mas foi defendida pelo brasileiro Robson Capasso, professor de Otorrinolaringologia e do programa Biodesign da Universidade de Stanford (EUA), durante o MedTec MD&M Brazil, nesta quarta-feira (27).
Acostumado com a opressão pela inovação [termo escolhido por ele próprio] que circunda a região do Vale do Silício, na Califórnia (EUA), as previsões de Khosla, na opinião do professor, devem ser levadas a sério caso se tenha interesse em investir na Saúde. E para quem quer continuar no setor ou começar, não existe melhor hora, disse Capasso, que foi um dos integrantes do painel de lançamento da pesquisa Medical Devices no Brasil, liderada pelo médico e engenheiro Kleber Stelmasuk, do grupo de mídia EmpreenderSaúde.
A relação entre o que se espera do futuro da Saúde com o mercado de dispositivos médicos é total, pois os cuidados médicos estão cada vez mais automatizados no mundo todo, ou seja, precisando de dispositivos ultra-inteligentes. O último relatório de Khosla, que ficou conhecido por ter sido co-fundador da Sun Microsystems, criadora da linguagem de programação Java e NFS (Network File System), prevê que:
- 80% do que os médicos fazem (diagnósticos) serão substituídos por máquinas
- A medicina será feita sob medida para cada paciente
- As tecnologias consumíveis, apps por exemplo, vão criar incentivos eficientes para manter as pessoas saudáveis
Diante disso, como aproveitar as oportunidades, desenvolver P&D e ser relevante globalmente em uma área em que os produtos variam desde abaixadores de língua até neuro-navegadores? A pesquisa da Empreender e as experiências tanto do Capasso e do engenheiro e gerente de marketing do Biodesign, de Stanford, Ravi Pamnani, apontaram algumas diretrizes para o Brasil.
Apesar das barreiras já bastante mencionadas por quem atua e analisa a indústria de Saúde, inclusive sendo tema principal da última revista Saúde Business (Top Hospitalar), produzida pela IT Mídia, como aspectos regulatórios inconsistentes, lentidão na aprovação dos produtos, peso tributário, aumento de custos devido à mudança demográfica, entre outros, a notícia boa é que o Brasil tem sim características importantes que podem impulsionar o desenvolvimento.
Dentre algumas delas, a experiência do País em trabalhar com custos reduzidos, tendo maior expertise sobre isso do que as empresas americanas, na opinião de Capasso, e o potencial dos profissionais locais nas áreas médica e de engenharia, mas ainda com pouco conhecimento no desenvolvimento de material médico.
Outros pontos fortes da pesquisa foram colhidos da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), em levantamento com CEOs do setor:
Maior mercado da América Latina, tendendo a gastar por volta de US$ 24 bilhões em dispositivos médicos (medical devices) e US$ 1 bi em e-health
Novos programas – monitoramento anti-corrupção e sistemas de compliance
Melhor distribuição para o mercado regional
Programa de aceitação de medical deviceis nacionais:
Hospitais públicos compram com menores taxas se nenhuma empresa nacional produzir o equipamento ou sendo produzido localmente, o preço for maior do que o importado
Cooperação entre instituições públicas, além de programas de financiamento para projetos universitários
Programas de Saúde da Família
Acredito que a principal mudança que precisa ser feita, dentre as citadas melhorias na logística, maior clareza nos processos das patentes, aproximação entre empresas e universidades, incentivos à pesquisa aplicada, entre outras, a mais importante delas foi: a mudança cultural. Enquanto alguém que tenta abrir uma empresa aqui e não dá certo é visto como um fracassado, nos EUA essa pessoa é altamente valorizada e incentivada por ter tentado, muitas vezes, incontáveis vezes.
O que tem que ser trabalhado aqui no Brasil é o pensamento crítico. Isso faz parte do protagonismo e da liderança. Ainda se vê muita hierarquia e uma interação pobre entre as disciplinas, como engenheiros e médicos, afirma Capasso.
A missão do Biodesign, de Stanford, de encontrar as necessidades do mercado para a implementação de novas tecnologias biomédicas está sendo estudada pela PUC de Curitiba.
Ravi Pamnani, que já foi integrante de um desses projetos da Biodesign, pontuou algumas dicas que ilustram bem a mentalidade de um empreendedor:
Você tem que falhar antes de ser bem sucedido, disse, abrindo seu discurso. Depois, Pamnani apresentou os seguintes aspectos para o desenvolvimento de um produto:
Perguntar o que mercado realmente quer? Quais são os problemas que estão enfrentando?
Depois de muito discutir, vamos para a possibilidades de resolver as necessidades
3° passo do planejamento para o mercado: ver o contexto regulatório, de competição, situação econômica
É preciso trabalhar o engajamento das pessoas e sinergias entre diferentes habilidades
Suporte de mentores e patrocinadores
Imersão em capo para identificar as oportunidades de melhorias (ele ficou dois meses dentro de hospitais observando os processos e fazendo perguntas aos médicos)
Depois de encontrar os problemas, efetuar um ranqueamento das necessidades e seus impactos: clínicos, econômicos, entre outros
Filtro das necessidades consideradas mais importantes
Início do desenvolvimento do plano de negócio para ir ao mercado