Qual prótese valvar utilizar: mecânica vs. biológica ?
Sabe-se que em diversas patologias cardíacas existe a necessidade de trocar a valva cardíaca (estenose aórtica, insuficiência aórtica, estenose mitral, insuficiência mitral), sendo essa cirurgia, uma das mais comumente realizada em grandes centros. Existem dois tipos de próteses valvares, as biológicas (utilizam pericárdio de porcino ou bovino) e as mecânicas (discos feitos de carbono), sendo que a escolha de qual tipo será utilizada devera ser uma decisão compartilhada entre a equipe médica e o paciente.
Diagnóstico e follow-up
Os pacientes que realizaram uma cirurgia de troca valvar cardíaca não estão necessariamente curados, mas ainda apresentam um “problema” no coração, visto que dependendo da escolha haverá necessidade de uma mudança “radical” no estilo de vida. Pacientes que realizaram a troca da valva nativa pela valva protética, deveram ter o mesmo acompanhamento cardiológico daquelas que possuem suas valvas nativas. O curso clínico dos pacientes com valvas cardíacas protéticas, será influenciado por diversos fatores como por exemplo:
Disfunção de ventrículo esquerdo
Progressão de outras doenças valvares
Hipertensão pulmonar
Doença ateroescleróticas
Danos nas próprias próteses
O intervalo entre as consultas de rotina depende do tipo de prótese escolhida pelo pacientes e a presença ou não de outras complicações cardiológicas. Sabe-se que as próteses mecânicas necessitam de anticoagulação rigorosa, sendo o acompanhamento da anticoagulação supervisionado e monitorado FREQUENTEMENTE por um profissional da saúde qualificado.
Os pacientes sem complicações são normalmente acompanhados com consultas de um em um ano, sendo avaliado a historia do ano que se passou além do exame físico. Eletrocardiograma e raio-x de tórax não são solicitados de rotina mas sim em pacientes selecionados. Testes adicionais incluindo hemoglobina e hematócrito, devem ser considerados em pacientes recebendo anticoagulação crônica.
Recomendação
Classe I: Um Ecocardiograma Transtorácico (ETT) é recomendado em pacientes após o procedimento de troca de valva para avaliação hemodinâmica da valva. Nível de evidência B.
Classe I: Repetir o ETT é recomendado em pacientes com valva cardíaca protética SE houver presença de sintomas ou sinais sugestivos de disfunção valvar. Nível de evidência C.
Classe I: Ecocardiograma Transesofágico (ETE) é recomendado quando paciente apresenta sintomas ou sinais sugestivos de disfunção da valva cardíaca profética. Nível de evidência C.
Classe IIa: ETT anual é aceitável em pacientes com BIOprótese cardíaca após os 10 primeiros anos, mesmo na ausência de sinais clínicos de alteração. Nível de evidência C.
Intervenção
Classe I: A escolha da valva deve ser um consenso entre a equipe assistente e o paciente.
Classe I: A BIOprótese é recomendada em pacientes de qualquer idade, para aqueles pacientes que possuem contra-indicação a terapia de anticoagulação, não irão apresentar um controle adequado da anticoagulação ou que não seja desejo do paciente anticoagular.
Classe IIa: A prótese mecânica é aceitável tanto aórtica quanto mitral em pacientes <60 anos de idade que NÃO apresentam contra-indicações para anticoagulação.
Classe IIa: A BIOprótese é aceitável em pacientes >70 anos de idade.
Classe IIa: Tanto a BIOprótese quanto a valva mecânica são aceitáveis entre 60-70 anos de idade.
Classe IIb: A troca da valva aórtica pela valva pulmonar nativa do paciente ( cirurgia de ROSS), realizada por um cirurgião experiente, pode ser considerada em pacientes jovens, quando a anticoagulação é contra-indicada ou o paciente não deseja anticoagular.
Valva mecânica
Vantagens: Normalmente não desgasta ao longo do tempo e portanto não necessita ser trocada.
Desvantagem: o paciente precisa ser anticoagulado pelo resto da vida, sendo que uma das principais complicações é sangramentos (Cerebral, gastrointestinal entre outros).
Obs:. Crianças podem usar se conseguir controle da anticoagulação, Mulheres devem evitar no período fértil 13 aos 45 anos.
Valva biológica
Vantagens: o paciente não precisa anticoagular, ou seja, diminui as chances de sangramento.
Desvantagem: desgasta-se ao longo do tempo, tendo que ser trocada dentro de alguns anos, dependendo muito da idade do paciente, da posição da valva e do tratamento da valva, sabe-se que hoje existem valvas com tratamento anticalcificante que tentem a durar mais do que a média, durando em torno de 15 anos).
Obs: Crianças podem utilizar, porém a necessitara de reintervenções no futuro (hoje com o amplo alcança das endoproteses não será um grande problema). Mulheres em idade fértil podem utilizar.
Referência bibliográfica
2014 AHA/ACC Guideline for the Management of Patients With Valvular Heart Disease; pág. 116-118.